domingo, 21 de fevereiro de 2010

Luiz Carlos Clay foi um cantor famoso da Jovem Guarda. Experimentou a fama, a fortuna, mas também o alcoolismo que fez com que perdesse tudo, inclusive sua família que passou a sentir vergonha dele. Converteu-se e participa por ano de cerca de 780 jantares da Adhonep (Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno) dando seu testemunho. É presidente do Capítulo 550 de Niterói (RJ). Tem viajado pela América do Sul, Europa e África. Em um dos recentes jantares promovidos pela Adhonep, Luiz Carlos Clay concedeu entrevista ao RO Gospel e contou como Jesus transformou sua vida e hoje canta músicas de adoração a Deus.

RO Gospel: Como começou sua carreira na Jovem Guarda?

Luiz Carlos: Quando a CBS me contratou, gravei meu primeiro compacto. Um pequeno disco de vinil, que vinha com apenas duas faixas, uma de cada lado. O sucesso “Uma casa sobre o mundo”, versão de uma música italiana, foi um estouro no país inteiro. Passei para meu compacto duplo com a bela música “Praia”, gravada pelo Aguinaldo Rayol em São Paulo e por mim no Rio de Janeiro. Viajava pelos estados e pelas cidades. Foi aí que participei do programa Rio Ritz, cujo produtor era o Jair Traumaturgo. Ele me colocou na parada, me lançou na Jovem Guarda. Subi como um foguete, cantando e me apresentando todas as semanas. Minhas músicas saíram no LP da CBS chamado “As 14 Mais...” Após meu segundo e terceiro discos eu já estava com a minha família toda no Rio. Foi quando marquei meu primeiro show ao vivo, para a AABB. Aquele show seria decisivo para a continuidade da minha carreira.

RO Gospel: Foi quando começou a beber?

Luiz Carlos: Sim. Nesse primeiro show ao vivo eu estava muito nervoso, inquieto, com medo e era visível. Todos perceberam. Até que alguém me deu um conselho: “Rapaz, toma uma dose de uísque! Você precisa relaxar...”Bebi a primeira dose, a segunda... a terceira e bebi mais uma... Fiquei alegre, simpático, descontraído. Todo o meu medo e minha inibição sumiram como por encanto... Fiz o melhor show da minha vida, um show que foi reprisado várias vezes! Passei a beber em todos os shows, por mais de 26 anos de carreira.

RO Gospel: E como começou realmente seu problema de alcoolismo?

Luiz Carlos: Em 1969 fui contratado pelo apresentador de TV Sílvio Santos, que tinha programas na Globo e na Tupi, para fazer um programa chamado “Os galãs cantam e dançam aos domingos”. Ele também contratou Antônio Marcos, Wanderley Cardoso, Paulo Sérgio e outros artistas que gostavam de tomar uns uísques. Comecei a beber pra valer. Era uma turma de cantores que se tornaram amigos que sempre se reuniam para bater papo e tomar umas doses. Foi dessa maneira que durante muito tempo fiz parte do movimento musical, histórico no Brasil, chamado Jovem Guarda. Eram muitos shows, muito dinheiro, muitas viagens, muita bebida... me tornei um alcoólatra com todas as letras! Casei em 1970. Vendi na época 600 mil discos, entre todos que gravei. O tempo corria, e eu nem me dava conta de que estava perdendo o que realmente era importante: virei artista em razão dos problemas familiares. Sou do Recife; meu pai era carioca e conheceu minha mãe lá por ocasião da parada do navio que ia para a Itália lutar na Segunda Guerra. Ele casou e constituiu uma família com nove filhos, dos quais dois morreram. O curioso é que todos eles receberam nome de líderes comunistas. Papai, além de militar, vivendo no Rio de Janeiro, era comunista e servia a esse partido. Ele esteve preso com Luiz Carlos Prestes, no Rio, e quando preso prometeu que um dia iria dar este nome a um filho, em homenagem a Luiz Carlos Prestes. Pois esse filho sou eu. Os outros são Vladimir Lenini, Katia Cilene, Olga Benário – nome da mulher do Luiz Carlos Prestes –, Marla e Nina Gabriela, todos estes nomes de líderes comunistas no mundo.

RO Gospel: E como foi seu casamento, sua vida em família?

Luiz Carlos: Quando me casei, passei a liderar uma família descrente de tudo, porque eu e minha mulher não ligávamos para nada que tivesse a ver com religião, pois papai era ateu e nunca ouvia falar de Deus. Meus filhos foram criados completamente sem bases; pior ainda: com um pai bêbado em casa. Como pai, como dono, como cabeça da família, eu só me preocupava se não faltava nada dentro da minha casa. Mas esquecia o mais importante: quando meus filhos queriam conversar comigo eu estava bêbado. Eu não era agressivo, mas era um bêbado depressivo. Vivi todas as fases do alcoólatra: a alegria de todos, depois a fase do depressivo, do bravo. Nunca bati nos meus filhos, mas também não dava o carinho que esperavam e mereciam. Destruí tudo, joguei tudo fora, perdi o dinheiro, o respeito, o rumo. Passei a não me respeitar mais como homem, pai, marido. O vício do álcool destrói o homem por inteiro. Os meus filhos tinham muita vergonha de mim e minha mulher se afastou.

RO Gospel: Como iniciou seu processo de conversão?

Luiz Carlos: No aniversário de um amigo vi um homem que falava pra ele sobre a importância de Deus dentro de uma casa e o que significava uma família, mulher e um lar cristãos. Tudo o que dizia não passava para mim de utopia; era perfeito demais para a minha realidade. Então aquele homem me disse: “Deus tem um plano para a sua vida.” Pensei: “Plano? Estou todo quebrado. Meu filho se tornou um delinqüente, minha caçula teve a primeira convulsão cerebral e se tornou epilética e a mais velha se transformou numa inimiga acirrada.” Ele me convidou para ir assistir reuniões na comunidade dele aos domingos. Não fui, mas passei a deixar meus filhos na igreja, pedindo ao Júnior (meu filho) que levasse a mais velha, que não falava mais comigo. Nessa época tinha voltado a Recife. Depois fiz um show e com o cachê voltei ao Rio de Janeiro ver meu pai, que era comunista, disciplinador, um homem de quem tinha orgulho de ser filho. Quando cheguei a Niterói mamãe me esperava e disse que estava orando por mim. Não entendi nada, porque ela nunca fora mulher de oração. Surpreendi meu pai de joelhos, com a Bíblia na mão, orando e chorando muito, o que me deixou estarrecido, pois jamais o vira chorar nem falar de Deus. Ele começou a me falar de Jesus e disse que Deus tinha um plano para a minha vida. Lembrei-me do homem, que me falara sobre isso. O ouvi orar de noite com a minha mãe e comecei a prestar atenção àquelas orações. Ao contemplar aquela cena compreendi que algo maravilhoso realmente acontecera na vida do meu pai. E se acontecera na dele, por que não poderia acontecer na minha?

RO Gospel: Então foi aí que se converteu?

Luiz Carlos: Ainda não, mas Deus colocou na minha vida a chance de ser feliz. Tentei recomeçar tudo. Conheci a Raquel, uma mulher séria e cristã, que começou a me falar de Jesus e a orar junto com meu pai. Nesse meio tempo o Vladimir, meu irmão mais velho, que mora em Ribeirão Preto – ele sabia que eu estava desempregado – me ligou dizendo que me conseguira um emprego numa rádio local. Passados oito anos recebi um telefonema de Recife. Até ali eu só sabia dos meus filhos pelas pessoas que me contavam as novidades, nunca por eles mesmos - foi quando o Júnior ligou no programa e disse ao vivo: “Papai, eu queria que o senhor viesse cantar no meu casamento. Vou lhe mandar uma fita; o senhor aprende as músicas e canta para mim”. E antes de desligar o telefone ele me fez o grande pedido; é aí que eu digo que a ficha caiu... Meu filho, que eu deixara praticamente rebelde, violento, brigando muito, me liga e pede: “Pai, eu queria que o senhor me desse o maior presente para o meu casamento: não beba!” No casamento, no momento em que estou cantando, quando o Júnior ia entrando na igreja, iam à frente minhas filhas. A Camila fez oração segurando na minha mão. Se meus filhos eram cristãos, por que eu não tinha esse Jesus? Na hora em que estava cantando eu entreguei a minha vida a Deus, a Jesus Cristo. Eu nunca mais bebi! Deus restaurou a minha vida. Meus filhos estão bem sucedidos e a Camila foi curada. Foi nesse dia que comecei a viver. Hoje temos um relacionamento formidável.

RO Gospel: Nos fale desses testemunhos que dá na Adhonep?

Luiz Carlos: O Ministério da Adhonep permite que pessoas que estão passando por provas, desenganados, sintam que Deus é maior que qualquer problema, pode resolver o delas e são impactados por isso.

RO Gospel: Que mensagem deixa ao povo de Rondônia?

Luiz Carlos: Hoje não só aqui, mas o mundo inteiro precisa perceber que não pode conseguir absolutamente nada sem ter fé e que realmente precisam amar seus filhos. Há muitas nações que precisam e estão sedentas de Deus. Precisamos fazer nossa parte.